por T. Austin-Sparks
Leituras: Salmo 24; Ap 21,9-21.
Vamos agora considerar outras características deste povo de Deus, conforme representadas nesta designação simbólica, a Cidade de Deus; e teremos diante de nós estas características e elementos que são sugeridos por:
Você deve ter notado nas leituras do Livro do Apocalipse o quanto se fala sobre a muralha e as portas da Cidade. Se você apenas marcar estas duas palavras, “muralha" e "portas”, verá imediatamente qual a importância delas e quanta atenção lhes é dirigida.
”Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Três portas se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos” [Ap 21:12-14 ].
“Aquele que falava comigo tinha por medida uma vara de ouro para medir a cidade, as suas portas e a sua muralha... E mediu a cidade com a vara até doze mil estádios. O seu comprimento, largura e altura são iguais. Mediu também a sua muralha, cento e quarenta e quatro côvados, medida de homem, isto é, de anjo.” [Ap 21:15-17 ].
Agora, qual é o significado da muralha e das portas, em geral? Acho que o significado é muito rico e profundo. A muralha representa os limites da cidade e esses limites determinam e definem a sua abrangência. Tudo está reunido dentro desses muros; eles representam toda a extensão e todo o conteúdo da cidade. Essas medidas são muito interessantes. Tamanho colossal desta cidade! Já dissemos que, se você se sentasse e fizesse essa conta, teria algo em que pensar; e descobriria que não há um pedaço de terra em todo o hemisfério ocidental deste mundo onde se pudesse construir essa cidade sem que ela caísse no mar. Eles traduzem imensidão, grandeza, a abrangência é tremenda.
Agora, reúna esses pensamentos. Imediatamente você vê que esta cidade, este povo de Deus, é imenso em sua inclusividade, em seu conteúdo, em sua abrangência. Mas qual é a inclusividade do povo do Senhor? Oh! se eu pudesse arrebatar o coração de qualquer pessoa não salva com uma apresentação verdadeira e adequada do que o Senhor dá ao Seu povo. O apóstolo Paulo se viu tão absorvido de tempos em tempos por essa questão, e viu isso tão claramente que simplesmente clamou: "Ó profundidade das riquezas!"
Volte novamente à carta aos Efésios, cap. 3, versículos 14-19: "Segundo a riqueza da sua glória... para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus". Ouça: "Segundo as riquezas da sua glória, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus". Essa é uma cidade grande. A linguagem de Efésios 3 é a linguagem de Apocalipse 21 — "a largura, o comprimento, a altura e a profundidade!" Poderosa! Extensa! É necessário ser cheio até a completa plenitude de Deus. Isso requer um grande vaso, um grande receptáculo, um recipiente muito grande. "A toda a plenitude de Deus!" Não podemos contemplar isso, não temos concepção disso, mas evidentemente o apóstolo Paulo, que havia sido arrebatado ao terceiro céu e visto coisas indizíveis — "coisas indizíveis", diz ele, "que não é lícito ao homem falar", sabia algo sobre isso: e por isso fala aqui da plenitude de Deus. “Me ponho de joelhos diante do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, para que Ele vos dê esta poderosa fortaleza interior, a fim de que possais compreender, com todos os santos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para serdes cheios de toda a plenitude de Deus." Paulo tinha uma pequena ideia disso — uma grande ideia em comparação com a nossa, e, no entanto, até mesmo Paulo descobriria mais do que já sabia.
Bem! As paredes representam a inclusão: elas nos falam da grandeza e plenitude para as quais Deus nos chamou. Oh! que isso nos chegue na força de uma grande realidade espiritual, pois se você abraçar esse pensamento de plenitude divina para o povo de Deus, você o encontrará em todos os lugares.
Portanto, os 12.000 estádios, os 144 côvados, as quatro dimensões, a plenitude de Deus, essa é a nossa vocação, amados. É possível que isso se perca, e creio que esse pungente remorso eterno seria ainda mais pungente pela descoberta do que foi perdido, do que por talvez muitas outras coisas. Acredito nisto: que uma vez que uma alma desperta para descobrir tudo o que perdeu, o inferno começa. Se o inferno fosse apenas recordação, isso bastaria. Ter sido criado para compartilhar a natureza divina, para entrar na glória divina, para ter toda a plenitude de Deus para compartilhar com todo o Seu povo, e tê-la perdido porque rejeitou o Senhor Jesus como a porta, o caminho, a verdade, a luz — certamente tem inferno nisso! Mas, amados, nós, a maioria de nós, temos uma perspectiva melhor do que essa: "e estou certo de coisas melhores a vosso respeito" [Hb 6:9]. Este é o nosso chamado, é isso que Deus está buscando realizar, é isso que Deus está fazendo: "segundo as riquezas da sua glória". Devemos deixar isso e prosseguir rapidamente.
Notamos, a seguir, que essas muralhas representam o caráter do povo do Senhor, a inclusividade e, em seguida, o caráter. Dissemos que a Cidade é o povo de Deus e as muralhas são uma apresentação do seu caráter. Observem-nas! Há o jaspe, o diamante de brilho límpido; a safira em sua beleza de azul etéreo; a calcedônia, o vermelho escuro e profundo do carbúnculo; a esmeralda, verde claro, puro e transitório; a sardônica, mesclando preto e branco; o sárdio, que é o rubi com outro nome; o crisólito, uma pedra amarelo-clara e dourada; o berilo, a rocha cristalina; o topázio, com seus tons mais ricos de amarelo; o crisópraso, que é a ágata; o jacinto, que hoje é chamado de ligure — laranja, vermelho e púrpura misturados — e, por fim, a ametista, com seus suaves tons violáceos. Tudo isso é uma apresentação linda e maravilhosa, mas o que ela nos diz?
Bem! De qualquer forma, remete à variedade, não é? Você pode organizar o arco-íris ali. Todas as cores primárias e secundárias são encontradas aqui — maravilhosa variedade e beleza. Não há uniformidade na obra de Deus, não há monotonia na obra da graça; a graça é multicolorida. A graça tem muitas fases, a graça é multifacetada em sua glória; e o povo de Deus é muito diferente, dificilmente temos dois iguais. Há uma vasta variedade reunida aqui, mas o Senhor, por meio da graça, pode encaixar toda a variedade em uma unidade e torná-la um todo completo, belo e perfeito. Talvez você tenha se desesperado de mim, talvez eu tenha me desesperado de você; a graça do Senhor vai nos encaixar, por mais diferentes que sejamos. Não creio que, apesar do que falei sobre duplos, existam duas pessoas exatamente iguais em todos os aspectos deste mundo; você encontrará uma diferença em algum lugar. Esse é o problema das relações raciais. Agora, o Senhor superou esse problema na graça. Estamos todos aqui, toda variedade está aqui, oh! e resplandecendo com esplendor, cheio de glória; esse é o caráter do povo de Deus. Deus não se desespera de você! Amado, não importa o que você pense de si mesmo, não importa o quanto você se sinta a respeito de si mesmo, não importa o quão deprimido esteja com sua própria natureza, constituição, temperamento e caráter, o Senhor tem a Sua maneira de levá-lo ao Seu lugar de perfeição. O Sangue do Senhor Jesus é suficiente, a graça de Deus é suficiente. Você já se desesperou de alguém que é desajeitado, difícil, rabugento, sem esperança? O Senhor não os abandonou! Creio que será uma das glórias daquela Cidade se descobrirmos o que o Senhor foi capaz de fazer com "diamantes brutos", como os chamamos; que Ele fará deles jaspe, um diamante de brilho puro.
Portanto, as pedras nos falam da variedade que Deus fundiu em uma unidade e tornou completa. Volto à antiga dispensação e leio a história das doze tribos dos filhos de Israel, e, em sua maior parte, é uma história triste. Lembro-me de uma página muito, muito sombria na história de Benjamim, uma das histórias mais terríveis de toda a Bíblia; uma daquelas histórias que hoje as pessoas éticas desejam omitir por não serem dignas de leitura. Oh! Por que colocá-la ali então? O Senhor acha que ela é digna de ser lida? Ora, Benjamim está aqui, na Cidade glorificada, aquele incidente sombrio está aqui glorificado. Se Deus pode fazer isso, o que Ele não pode fazer?
Passeie pelas tribos e acompanhe sua história, e você frequentemente se perguntará por que Deus não apaga tudo isso. Por que Ele é tão tolerante e longânimo com o rebelde Israel? Ele não permitirá que Balaão amaldiçoe. Oh! o que a graça não pode fazer? Os nomes das doze tribos dos filhos de Israel estão aqui brilhando com o brilho da glória eterna, e os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. Devo confessar que muitas vezes eu teria “lavado as mãos” pensando naqueles doze. Eles são muito decepcionantes, sempre dizendo e fazendo a coisa errada. "Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?”. O Mestre diz: "vós não sabeis de que espírito sois". [Lc 9:54,55]. “Senhor, manda-a embora", ela clama atrás de nós. Aqui está a mulher que está angustiada por sua filha — e a ideia dos discípulos cristãos é: "manda-a embora" [Mt 15:23]. Esse não é o Espírito de Cristo. "Senhor, eis que nós tudo deixamos e te seguimos, o que nos restará?" [Mt 19:27]. Você vê o espírito avarento chegando na esfera da devoção ao Senhor. Não há serviço desinteressado ali — o que vamos receber? Bem, nenhum de nós gosta desse espírito, por mais que esteja em nós; e então Pedro nega o Senhor com juramentos e maldições no final, e todos O abandonaram e fugiram. E essa não é, nem de longe, toda a história.
Eles estão todos aqui nas paredes, brilhando com o esplendor que Deus lhes deu; diversidade, variedade, mas todos em glória pela graça. Esses nomes das doze tribos e esses nomes dos doze apóstolos representam algo, representam todo o grupo dos redimidos em duas dispensações. Salvos, santificados, glorificados — pelo Sangue da Sua Cruz. E que humanidade isso representa à parte da graça! Vocês, eu sei, já tiveram esses problemas com as Escrituras — por que Jacó recebeu o lugar que ocupa? Como desprezamos Jacó, o suplantador, o homem tão vil, de má reputação, tudo aquilo que odiamos em Jacó. Por que lhe foi dado tal lugar? Para glorificar a graça de Deus. Há esperança para todos nós! "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento." É o pecador que glorifica a graça de Deus; e, no entanto, não há nenhum justo, nem um sequer, aos olhos de Deus. Portanto, esses nomes representam uma humanidade muito pobre, salva e elevada pela graça.
Essas paredes não apenas representam a inclusividade e a abrangência da plenitude divina no povo do Senhor, como também representam o caráter dessa companhia redimida, mas também representam a exclusividade. Imediatamente, deve haver, não é mesmo, a nota de advertência? Pois aqui são claramente ditas certas coisas sobre o que está fora e o que não deve entrar. "Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro” [Ap 21:27 ]. “Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira." [Ap 22:15].
De fato, esses são termos fortes. Essa é uma linguagem muito forte, e você pode dizer que certamente se refere a um tipo muito, muito ruim de pessoa, mas se você tomasse as escrituras, descobriria que esses também são termos simbólicos — fornicadores, idólatras. Você diz que não é isso! Tem certeza? O que é isso nas escrituras? Aqueles que são chamados a ser a noiva casta do Senhor Jesus, segundo a vontade eterna de Deus, deram aos outros o lugar que Ele deveria ocupar. Isso é tudo. Ele é o Noivo no propósito de Deus!
Paulo viu que seu ministério e sua missão era apresentar esta Igreja como uma virgem casta a Cristo para ser Sua noiva [2Co 11:2], e somos chamados para isso segundo a vontade eterna de Deus antes que o mundo existisse. Chamados e criados para isso e então, depois que o Filho veio, Ele nos redimiu para isso, e é por Seu precioso sangue que esta Igreja está assegurada para ser Sua noiva. A Palavra diz isso, e aqueles que foram criados foram redimidos para isso, pois Cristo morreu para esse fim. Dar o Seu lugar a outra coisa — isso é idolatria, isso é fornicação! Oh! Bem, isso se aplica a cada um de nós. O que está tomando o lugar do Senhor Jesus em nossos corações? O que está colocando o nosso amor em Seu lugar? Isso pode nos excluir da Cidade de Deus. Fornicação é espiritual, é dar lugar a outra coisa, que o Senhor Jesus deveria ter. Isso é tudo.
Assassinos! Oh! Ouçam o Senhor Jesus. Vocês não precisam cometer o ato, basta ficar com raiva do seu irmão, e isso está lá. É o pecado do espírito, amados, não apenas o pecado da carne, com o qual Deus está lidando. Vejam, este povo, em última análise, é um povo cujo espírito foi santificado, cujo espírito é santificado, e assassinato não é literalmente matar outro, é o espírito de ódio contra o outro. Isso é assassinato aos olhos de Deus. Deus vê o fim disso, se fosse irrestrito. Deus vê como essa mesma coisa tem acontecido ao longo dos séculos. Caim ficou com raiva de seu irmão primeiro e depois o matou. Ele era culpado de assassinato antes mesmo de bater em seu irmão, aquilo já estava em seu coração. Vejam, está no coração, e, portanto, este povo é o povo cujo coração foi purificado pelo sangue do Senhor Jesus, e nada contrário a isso pode entrar aqui. Ah, então há uma exclusividade nisso que proíbe qualquer coisa contrária à natureza de Deus. "E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança" (1Jo 3:3). Ele deve ser puro. "Eu vi a Cidade Santa ." "Sede santos, porque eu sou santo, diz o Senhor.” [1Pe 1:16]. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" [Hebreus 12:14]. Mas onde reside nossa confiança, nossa força, nossa esperança? Deus não deixa isso por nossa conta, Ele enviou Seu Espírito Santo para habitar em nossos corações.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.